domingo, 30 de julho de 2006

Ser ou não ser...

Já tinha tido uma sensação semelhante a esta uma vez num outro espectáculo. Por acaso na altura era um bailado e desta vez foi teatro, mas a situação era em tudo idêntica.
É uma sensação de nervosísmo, de estar com o coração nas mãos à espera que algo de catastrófico aconteça, sabendo que existe uma grande probabilidade de tal acontecer...
Da primeira vez foi no Romeu e Julieta. Em cena estavam 3 bailarinos lado a lado. Resolvem fazer uma dupla pirueta em sincronia, mas um dos desgraçados quase caiu. Para meu espanto seguem para a segunda dose de duplas piruetas e o pobre rapaz ainda se desiquilibra mais do que da primeira vez. Quando vejo que se preparam para a terceira ronda agarrei-me à cadeira à espera que o inevitável acontecesse e que o tipo saisse de maca do palco. Por sorte ele só andou uns passitos para o lado e a coisa acalmou em grau de exigência. Pude por fim respirar de alívio.
Ontem voltou a acontecer.
O que leva um actor a julgar que pode recitar sem mais nem menos Shakespeare em frente de um público que acabou de pagar 15 eur pelo seu bilhete.
Tudo bem que o cenário era engraçado (quinta da regaleira em Sintra de noite), mas pôr um tipo que não é capaz de pronunciar a palavra Gertrudes, é abusar. Especialmente quando ele faz de rei e tem várias falas. O homem esqueceu-se do texto por mais de uma vez, e por isso cada vez que abria a boca deixava tudo com o coração nas mãos à espera da próxima omissão de texto ou amostra de dislexia recorrente.
A peça lá acabou em grande mortandade, não fosse estar "Hamlet" em cena.
A que estão que fica no ar para o actor é: "Ser ou não ser?" Deixem-me que vos diga, antes não ser! Mais vale voltar ao lugar de técnico de som que era o que ele provavelmente fazia antes de ter de substituir o actor principal por motivo de doença...

sexta-feira, 14 de julho de 2006

Também preferia ter estado na praia...

Este excerto vinha hoje no Diário de Notícias e relata uma entrevista feita a um aluno depois de este ver as notas que tinha obtido nos exames nacionais. Vai ser mais um a dar graças ao facilitismo na criação de cursos no ensino superior privado...

"Tive 3 valores a Química", afirma Diogo Matias, já com alguma tristeza no olhar. Quando viu os resultados na pauta não conseguiu esconder a apatia. "Aquilo em que mais investimos não saiu." O aluno alega ainda que o exame estava mal feito. "Saiu matéria pouco importante", declarou, desolado. Diogo teve nota final 10, mas mostra-se inconformado com o facto de não ter saído a matéria que foi mais trabalhada durante o ano. Para ele, a catástrofe não atingiu apenas esta disciplina. "Tive 2 valores a Matemática e 6 a Biologia." O exame de Matemática era muito extenso, diz, justificando desta forma o desastroso resultado.Quando questionado em relação ao seu futuro académico, afirma que " talvez vá para uma universidade privada tirar veterinária", alegando não ter a média necessária para entrar no ensino público.

Vê-se claramente que este é um candidato perfeito para ingressar num curso, que não deixa de ser de medicina e que, como tal, requer uma capacidade de estudo brutal. A parte que me deixa mais espantado (ou não...) é o facto da Ordem dos Médicos Veterinários (OMV) permitir realmente e sem qualquer tipo de contestação a abertura de novos cursos de veterinária (quer públicos quer privados) face à enorme dificuldade que os recém-licenciados têm a arranjar emprego. Pior do que isso é saber que os alunos do privado, que julgando por este futuro colega não devem ser propriamente a nata dos estudantes, podem ingressar na OMV sem ter de realizar qualquer tipo de exame a atestar as suas capacidades como Veterinários!
Dizem que o cliente tem sempre razão, por isso o melhor é começar a escrever à porta das clínicas: "Licenciado pela Faculdade de Medicina Veterinária de Lisboa. Em oposição ao meu colega da Privada eu resolvi estudar, por isso em vez de um 3 tive um 19,8 a Química. Decida você em quem quer depositar a sua confiança para tratar do seu animal!"


sexta-feira, 7 de julho de 2006

Os amigos do Gervásio

Para quem tem memória curta, o Gervásio é o chimpanzé do anúncio dos ecopontos capaz de fazer a separação do lixo reciclável.
Num país em que a consciência ecologica não é, digamos, o prato forte somos confrontados com medidas aberrantes que só fazem as pessoas pensar em desistir de reciclar. Hoje li uma notícia que diz simplesmente que a Câmara Municupal de Lisboa anda a multar as pessoas que deixam o lixo ao lado dos ecopontos quando estes estão cheios. A parte mais curiosa é que se por acaso alguém (por exemplo, um sem-abrigo à procura de algum cartão para se deitar) retirar o nosso lixo do ecoponto cá para fora, e apesar de termos feito tudo correctamente, podemos continuar a ser multados. Somos nós que temos de provar que somos inocentes. A única maneira de o fazer, penso que é montar guarda de 24h aos ecopontos de caçadeira em punho, para garantir que os nossos papéis não venham cá para fora.
O que os senhores do anúncio se esqueceram de dizer, é que o Gervásio tem uns amigos que vasculham os nossos papéis em busca de possíveis referências a moradas ou nomes, por forma a poder entalar o cidadão mais eco-consciente.
A mensagem que passa é que alguém que resolva reciclar seja o que for, vai ter o dobro do trabalho e no final arrisca-se a ficar com menos dinheiro na conta bancária. É preferível continuar a meter o lixo todo à molhada, pois ao menos ninguém nos chateia.
Já agora uma pequena sugestão, se perdessem mais tempo a ir esvaziar os ecopontos, em vez de andar a vasculhar o nosso lixo, talvez as coisas corressem melhor.

Os meus caminhos agora são estes...