sábado, 25 de março de 2006

Eu só queria um pão!

Hoje de tarde fui fazer as compras da semana a uma grande superfície. Comprei tudo o que queria, excepto pão, pois esse é para ser comprado numa padariazita em Messines. Pão do Algarve quente, hummmmm, pensei eu.
Estacionei o carro e entro na padaria. Só estava lá uma outra cliente. Melhor dizendo uma cliente e meia, pois a senhora estava acompanhada da neta de 3 anos.
Começam então os que viriam a ser conhecidos como os 15 minutos mais longos da minha vida.
A senhora resolve começar a pedir miniaturas. Perguntou o preço de cada uma das variedades, e depois começou: "É um saquinho com dois destes, três destes, um deste e mais dois deste". 4 minutos depois, "Agora é mais um saquinho com dois destes e dois daqueles". 3 minutos depois, "Quanto custam estes outra vez?" "Então não, é mais um saquinho com três destes e quatro daqueles". É o tudo pensei, para logo ouvir: "É mais uma goma das pretas."
A conta é feita e a mulher prepara-se para pagar. Finalmente vou poder comprar o meu pão. HAHAHA! Alguém lá em cima resolveu trocar-me as voltas, pois nisto a criança começa a embirrar que não queria a goma preta, mas a encarnada. A avó começa a dizer-lhe que as outras não estão para venda e obriga a senhora da padaria a dizer o mesmo, mas sem desamparar a loja e a continuar a olhar para a neta a ver a reacção dela.
É triste quando um ser de 3 anos consegue ser mais manhoso que um de 70. A miuda vê que a explicação da avó não está a ser muito convincente e muda a cor da goma para branco. A senhora da padaria já só olhava para mim a rir, eu retribuí o sorriso para não chorar.
"Olhe então é mais uma goma branca; é branca não é filha?"
Finalmente a mulher paga e sai da padaria.
Da próxima ninguém me engana, é pão de forma e mais nada.

terça-feira, 21 de março de 2006

O cão pastor

Há algo nos cães que me fascina, não sei o que é mas sinto uma empatia enorme por esses animais. Na altura em que me perguntaram para que faculdade é que eu queria ir a minha resposta foi um pouco difícil de dar. No fundo não queria estudar para ter nenhuma profissão em especial, queria sim ser criador de cães.
Depois de divagar um pouco resolvi optar pela Veterinária. Pensei que assim poderia tratar dos cães que viesse a criar no futuro.
As voltas que a vida dá; durante o curso comecei a engraçar mais com a clínica de espécies pecuárias do que com os animais de companhia. A ideia de vir a ser veterinário de campo tornou-se mais apelativa, pois imaginava o sr. Doutor a chegar a locais remotos e a ser o herói do dia, salvando um qualquer animal que todos julgavam estar condenado, em oposição ao veterinário de consultório, que tem muitas vezes de tratar os donos neuróticos que sofrem com coisas que os animais não têm!
Perseguindo esse segundo sonho de me tornar veterinário de campo, deparei-me com uma realidade "um pouco" diferente daquela que eu tinha idealizado nos anos de faculdade. A clínica de espécies pecuárias está muito limitada pelo valor comercial dos animais, para além de que os produtores só chamam o veterinário quando eles próprios já tentaram de tudo sem sucesso, encontrando-se os animais num estado deplorável quando lá chegamos. Milagres só a nossa senhora de Fátima e mesmo assim não é sempre!
Neste início de carreira deparei-me com inúmeros cães, pois toda a exploração, quinta, fazenda ou quintal que se preze tem pelo menos um exemplar canino em exibição. Ora no meio de tanta canzoada dou de caras com aquilo que eu considero a maravilha da espécie canina.
Já vi muito cão a farejar droga, explosivos ou até mesmo cães treinados para encontrar pessoas debaixo de escombros. Todos estes cães desempenham um papel formidável, mas estão apenas a utilizar o seu olfacto para realizar as suas tarefas. Para nós seria impossível detectar explosivos dessa forma, mas um cão consegue fazê-lo sem grandes dificuldades pois esse seu sentido é milhares de vezes mais apurado do que o de um ser Humano.
Agora o que me fascina é ver um cão pastor a trabalhar. Quem nunca teve o privilégio de assistir a esse espectáculo pode não apreciar aquilo que estou a escrever, mas o trabalho de um cão pastor depende principalmente da inteligência do animal. Como é que o cão percebe o que o pastor quer, e ao sinal de "dá a volta!" é capaz de correr atrás das ovelhas tresmalhadas e trazê-las para junto do rebanho. Ou melhor ainda, ver um cão pastor sozinho ir "buscar" um rebanho e a colocar todas as ovelhas dentro de um cercado. É impressionante! Para mim esses, muitas vezes rafeiros, são a elite dos cães de trabalho!

quinta-feira, 16 de março de 2006

Ó Carlos vai lá segurar as meninas...

Ontem tive a oportunidade de ver uma verdadeira feminista! Uma mulher a sério que com metro e meio vestia as calças lá de casa! Chego à hora combinada - 15h. Lá fomos para vacinar 12 ovelhas, mas no cercado só estavam 5. Começa então aí o espectáculo do furacão. Apesar do marido e um amigo estarem lá, a senhora resolve ir atrás das ovelhas perdidas. Sai a correr do cercado e a emitir uns urros para as atrair. Passados 5 minutos lá aparece com as bichas meia afogueada. Sim senhor, podemos começar. No meu espanto e com a assistência imóvel vejo que é o metro e meio a segurar as ovelhas ( melhor que muitos homens). Depois de todas agarradas foi preciso alguém ir buscar um antibiotico à casa, e adivinhem quem foi por sugestão do marido? Metro e meio, não antes sem lhe dizer: "Cacete, este cabrão só sabe é mandar..." Não deu para conter o riso...
Hoje ao final do dia faltava ir a um lar/escola/creche que por algum motivo tinha 5 ovelhas. Um senhor aperaltado estava à minha espera para ir vacinar as ovelhas. Chegam então os reforços: Carlos, com chapéu e uns óculos fundo de garrafa brutais. Daqueles em que a lente era capaz de pegar fogo a um pinheiro se o sol lá incidisse. Disse-lhe "boa tarde" e a resposta tardou em chegar. Poucos segundos depois percebi que Carlos tinha um qualquer tipo de deficiência, tipo trissomia, mas sem os traços físicos. Para além disso tinha o hábito de repetir as coisas. Para começar era preciso agarrar as ovelhas num espaço equivalente a um ringue de patinagem.
Oiço então o senhor dizer "Ó Carlos vai lá segurar as meninas...não tenhas medo". Pensei que só podia ser para os apanhados. Não era. Cedo se percebeu que o Carlos não ia dar conta do recado, especialmente quando uma ovelha saltou por cima do meu braço (eram um pouco fugidias, para não dizer mais nada). O outro homem lá resolveu intervir, mas devia ser a primeira vez que segurava ovelhas pois elas fugiam, ele arranhava-se o Carlos gritava, enfim só visto. Lá agarrou a primeira a muito custo, depois veio o carneiro e aí sim Carlos encravou o disco na frase: " O cabrão é g'ande!" enquanto o outro se esfarelava todo nas paredes. Vontade de rir não faltava, mas lá para o fim lá lhe agarrei duas ovelhas para ele ver como é que se fazia.
Serviço feito e o Carlos lá se foi embora desta vez repetindo incessantemente a frase "É cabrão..."
Surreal...

terça-feira, 14 de março de 2006

Só faltou chamar-me pai...

Já pouco me espanta na vida de veterinário, mesmo assim ainda vou tendo umas surpresas de vez em quando. Hoje foi um desses dias. Quem disse que ser polícia é uma profissão de risco nunca tentou ir conversar com o proprietário de um rebanho de ovelhas brucélicas (que vão ser abatidas por representarem um risco para a saúde pública), para o convencer a vacinar as restantes ovelhas saudáveis contra a febre catarral ovina (vacinação obrigatória por lei, mas que é totalmente grátis para o criador).
O proprietário das ovelhas aparece com mais um individuo no seu Land Rover. Ora o homem queria rebentar com alguém, calhou ser eu a primeira pessoa a aparecer na exploração depois da notícia. Refila daqui, desabafa dali, mas de início tudo bem. Foi mostrar-nos onde estavam as ovelhas e sem dizer mais nada vira costas e mete-se no jipe. Ora como não estava lá mais ninguém, e as ovelhas não se iam apanhar sozinhas, perguntei-lhe quem é que ia apanhar as ditas cujas. O homem sai do jipe transtornado e aos gritos, a perguntar se eu não era capaz e se não tinha mãozinhas.
Ora que ele esteja transtornado com as ovelhas dele terem de ser abatidas tudo bem, agora achar que é o único criador que não tem de agarrar as ovelhas, isso é que já não. Veterinário vacina, e o senhor do jipe dá condições para que o veterinário vacine. Não tem condições para ter animais, nem ninguém para cuidar deles, então não os tenha. Qualquer dia por me verem de fato-de-macaco começam a exigir que dê comida aos animais e lhes vá mudar as camas.
Como é óbvio disse-lhe que eu não iria vacinar as ovelhas assim. Agarrei nas coisas e comecei a sair. Depois disso veio de tudo, como não lhe dirigi mais palavra, ele ainda mais nervoso ficava e mais insultos vociferava.
Vim embora e fui vacinar ovelhas de outro criador.
Na folhinha de campo segue apenas que o proprietário não disponibilizou ninguém para agarrar os animais impedindo assim que a vacinação se realizasse.
Ora não acham que isto dava direito aos veterinários para terem licença de porte de arma? É que licença para matar já temos.

quarta-feira, 8 de março de 2006

GLORIOSO SLB!!!

São capazes do melhor e do pior, de nos fazer sofrer, rir, gritar de alegria, chorar ou gritar de fúria.
De início nunca ninguém dá nada por eles, mas no fundo todos temos o desejo profundo de estar enganados.
E então eis que ele olha, puxa o pé atrás e ...



Nada se compara ao momento em que a bola entra na baliza. Explosão de alegria. Que dose de endorfinas a correr no nosso sangue. Que sensação de bem estar. É a procura deste sentimento que creio eu leva tantos milhões a vibrar com o futebol tão intensamente. Termina o jogo e por umas horas, dias ou semanas sentimo-nos bem com o mundo. Digam o que disserem, ser uma das 8 melhores equipas da europa é digno de registo.

Parabéns Benfica!

terça-feira, 7 de março de 2006

Saudade...

segunda-feira, 6 de março de 2006

Para a menina não amuar...

Vânia Marisa, que a partir de hoje não se diga que eu não falo da minha parceira de trabalho.
Aqui vai uma breve descrição da peça: scalabitana a pensar assentar em Messines (casa nova pronta para meados de 2053); casada com homem santo; possuidora de inúmeros cálculos biliares que conferem à sua vesícula a alcunha "a pedreira"(apropriado tendo em conta a profissão do "santo"). Rapariga sempre amável e nada teimosa... O que vale é que até tem bom sentido de orientação. Não sabe o que é uma vacina, mas tenta. Cozinheira exímia que ainda me está a dever uma tarte de natas. Adora falar ao telefone, especialmente com estranhos. Grande sentido de humor sendo fácil arrancar-lhe uma gargalhada, excepto se lhe contarmos uma anedota. Adora animais especialmente a Bolota e o Pipo. Tricotadora furiosa de panos, paninhos e babetes. Leitora ávida, apesar do problemita de visão. Com dois telemóveis e uns óculos escuros da Armani, não preciso de dizer que dinheiro não lhe falta.
Depois disto já estou a ver o meu convite para jantar a ser cancelado...
Para quem não sabe na foto estou eu e a Vânia e atrás de nós está uma caravela gigante encalhada.


domingo, 5 de março de 2006

Estive com um pezinho no cinema

Nesta altura de Oscares, achei por bem ir ver um filmezito ao cinema. Como era Sábado resolvi vestir uma roupita melhor do que a que uso no dia-a-dia no meio das ovelhas. Estava a um passinho de comprar o bilhete, quando o telefone toca. Era a Rita Catita, a pedir ajuda para ir resolver um prolapso uterino numa vaca. Cinema teria de ficar para outro dia.
Ao chegar deparamo-nos com um novilha acabada de parir há uma hora e com o utero de fora. O vitelito recém-nascido tinha sido tirado para fora com a ajuda dos trabalhadores da quinta. Aparentemente tiraram mais do que estavam à espera...
A dupla Catita-Figueiredo recorrendo a uma das melhores artes do povo Português -DESENRASCANÇO - e após muito esforço de empurra aqui e ajeita ali, lá resoveu a situação com sucesso.

Depois foi dar uns pontinhos e deixar a natureza seguir o seu curso. A história acabou em bem com a novilha a lamber o vitelito.
Toda e qualquer esperança de ter um ar mais apresentável ao fim de semana foi por água abaixo quando retirei a capa com que tinha estado a trabalhar. Dizer que parecia um talhante é pouco.
Regresso a casa para o segundo banho do dia.
Para comemorar a dupla imbatível e suas acompanhates foi jantar fora e beber um copo ao som do Danny Boy e de outros sons irlandêses.

sábado, 4 de março de 2006

Como a vida muda


O ano passado a paisagem era esta...
Mas este ano a conversa é outra.


Liberdade de expressão

Desenganem-se se pensam que vou falar em caricaturas de Maomé, Pai Natal, Coelhinho da Páscoa, etc...
Simplesmente passo a anunciar publicamente que o Blogariado está aberto a todo e qualquer tipo de comentários, como seria de esperar, pois é esse o intuito de um blog. A partir de hoje comentem à vontade e sem censura cibernética.

quinta-feira, 2 de março de 2006

Hoje passei por aqui, e tu onde estiveste?


Trabalhar no campo tem destas pequenas recompensas...

Conviver...

Desde novo que oiço dizer que hoje em dia as pessoas já não estão juntas a conversar como se fazia antigamente. Essa ideia de serões sem televisão em que as pessoas estavam juntas numa sala, simplesmente a conversar e a conviver umas com as outras, sempre me fascinou. Sempre imaginei essa cena com alguém mais velho a contar histórias ou a partilhar as suas vivências com o resto dos presentes.
Foi curioso sentir hoje durante o almoço ter estado a fazer exactamente aquilo que descrevi. Há algo de extraordinário na hospitalidade das pessoas, especialmente quando perfeitos estranhos, que conhecemos apenas algumas horas antes, nos convidam para almoçar em sua casa oferecendo tudo do melhor que têm.
Sem nada que assim o obrigasse, dei com a mesa posta para sete. O almoço ia ser um ensopado de borrego com arroz, feijão e batata. Tudo acompanhado de um bom pão saloio e regado com vinho tinto. Para meu próprio espanto repeti até não poder mais. Senti-me bem no meio de estranhos, cada um a falar com gosto, a apreciar o facto de ali estar naquele momento. Ouvi as tais histórias e ri-me com gosto. Veio o café com uma fatia de bolo. Claro que o habitual medronho veio fazer companhia aos outros dois já bebidos logo à chegada. A partida foi sendo adiada o mais possível, pois eram os próprios donos da casa que insistiam em continuar a falar, dizendo que a nossa companhia lhes estava a saber bem...
Daqui a alguns anos vou provavelmente dizer aos meus filhos que as pessoas já não conversam como antigamente...

quarta-feira, 1 de março de 2006

Independência

Resolvi soltar as amarras e tornar-me independente.
Agora já não vai haver refilices quanto ao nome do meu blog,etc...
Blogariado? O blog de alguém que às vezes faz as coisas contrariado, ou pior, o blog de alguém que por vezes vê fazer coisas muito contrárias às suas convicções.
OU SIMPLESMENTE Blogariado, por todos os outros nomes de jeito já estarem ocupados...